Estou com saudade de mim. Há muito tempo não me tenho.
Quando estou com alguém, eu me dôo tanto que depois de um tempo sinto falta de mim.
Preciso de um tempo para brigar comigo. Para me entender comigo mesma.
Quando quero estar com alguém, quero tanto que me esqueço de mim.
E então eu me sinto presa em algo que não sou eu.
E essa é a hora em que eu me procuro até a nascente dos meus extremos e não me encontro nunca. Me encontro ali, onde deixei meu coração.
Mas e quando eu não quero estar lá? Eu preciso estar lá o tempo todo?
Eu quero um pouco de mim. Cadê eu? Devo ter me esquecido em algum lugar confortável.
O conforto conforta. E sentir-se confortável é um erro cruel. É um erro que mata e vai corroendo a alma devagar, como uma bactéria consome um corpo em decomposição. E essa bactéria está corroendo meu corpo agora.
Minhas alegrias dependem disso. E agora preciso sumir.
Me estranha ser o que sou. Me estranha saber no que me tornei.
Me estranha saber que o que eu quero está tão distante de mim. Num lugar onde eu não posso alcançar. Como uma criança que pula para pegar o balão que está voando, voando alto, então a vontade é de alcançá-lo para voar junto com ele pra lugar nenhum.
E essa vontade me faz mal, me deixa pálida, como uma rosa branca nascida na fresta entre a terra e o concreto em um tumulo cinza.
Eu só queria me sentir bem agora. Bem comigo, bem com o coração. O coração dói tanto, ai de mim.
Meu estômago também sofre e sente, ele apanha e depois bate em mim. Às vezes eu até penso ter dois corações. Não, não. Eu seria em dobro isso que eu sou? Não tem como. Não suportaria.
Eu mato a mim mesma devagar, tentando encontrar um mínimo de alegriazinha.
Mas o que me deixa triste é saber que não sei viver assim, não compreendo o sentir.
No dia do meu juízo final, sei lá onde, como e com quem, vou perguntar como funciona essa coisa de sentir demais. E não devo me esquecer também sobre a saudade, essa intrusa que atormenta minhas noites de insônia.
Não tenho dormido. Tenho sentido demais.
Tenho sentido tudo e tanto que quero me entorpecer e sumir de mim, transcender meu espírito.
Hoje eu pensei em morar com os mortos.
Eles são como eu, ou vive, ou morre. Eles são o morto e eu sou o vivo.
Como é linda a casa deles, como o sol se põe mais lindo, e como as flores cheiram mais. Cheiram morte. Quero estar diante dos sonhos.
Estou em estado de crise psíquica.
Mas o que eu quero realmente é isso, e querer isso não é normal.
Minhas crises são sinceras e me deixam frágil como uma taça de cristal.
Eu sou frágil sempre. São minhas verdades em mim. Só quero sentí-las.
Escondo minhas fraquezas nas minhas forças, apesar de que eu as desconheço.
Eu me desconheço.
Mas já pensei demais sobre mim.
Escrever é meu refúgio iluminado.
Loris'